Há 210 anos, Salvador foi palco de um levante de escravizados muçulmanos, um dos mais demorados de que se tem notícia na Bahia na primeira metade do século XIX. Em menos de uma hora, o dramático desfecho: 58 mortos, quatro condenados à pena capital e enforcados; muitos punidos com penas de açoite, inclusive quatro mulheres; e 23 homens deportados para colônias penais em Benguela, na África portuguesa. Do lado adversário, 14 baixas.
No dia 28 de fevereiro de 1814, cerca de 250 homens atacaram as armações de pesca de baleias em praias ao norte da cidade, e a vila de Itapuã foi um desses alvos: moradores foram mortos, casas e plantações terminaram incendiadas.
A organização teria começado na verdade dois meses antes, com grande número de escravizados abandonando Salvador e se aquilombando em seus arredores. O plano era chegar até o Recôncavo, onde contavam com adeptos à conspiração.
Os rebeldes, na maioria haussás, montavam cavalos apanhados nas fazendas atacadas e lutavam exclusivamente com armas brancas (facas, facões, foices, machados e lanças), arco e flechas. Brigaram bravamente, dando vivas a seu “rei” e “morra brancos e mulatos”, mas foram vencidos pelo cansaço e pela fuzilaria de seus opositores, às margens do rio Joanes, próximo a Santo Amaro de Ipitanga – atual municipio de Lauro de Freitas. A repressão também contou com a participação da Casa da Torre, de moradores da Vila de Abrantes, ao norte de Itapuã, e de militares despachados de Salvador pelo Conde dos Arcos, então governador da Bahia.
Fonte: REIS, João José. “Há duzentos anos: a revolta escrava de 1814 na Bahia”. Topoi (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 15, n. 28, p. 68-115, jan./jun. 2014